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O CRISTÃO E O NATAL

  

  

 

 

 

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A HISTÓRIA QUE MOLDOU O MUNDO
A HISTÓRIA QUE MOLDOU O MUNDO

A Origem de Dois Povos 

A História que Moldou o Mundo

No início de todas as coisas, quando Deus chamou Abraão para deixar sua terra, sua parentela e tudo o que lhe era familiar, Ele iniciou ali uma jornada que mudaria definitivamente a história espiritual, política e cultural da humanidade. A promessa feita ao patriarca incluía um filho, uma descendência numerosa e uma terra que se tornaria herança eterna de seu povo. No entanto, a maneira como essa promessa se desenrolou deu origem a duas linhagens que, até hoje, influenciam diretamente o cenário mundial. A linhagem de Ismael e a linhagem de Isaque.

Abraão, já avançado em idade, recebeu de Deus a promessa de um filho com Sara. Mas, diante das circunstâncias humanas, Sara ofereceu sua serva Hagar para que Abraão tivesse um filho. Assim nasceu Ismael, o primogênito biológico de Abraão. A Escritura apresenta Ismael como um menino forte, observado e amparado pelo próprio Deus. Quando Hagar, aflita, fugiu para o deserto, o anjo do Senhor apareceu a ela, prometendo que Ismael também se tornaria pai de uma grande nação. Deus viu o sofrimento da mulher e ouviu o choro do menino. Esse cuidado divino já revela que o plano de Deus inclui misericórdia para todos os povos, sem distinção.

Mas, anos depois, quando Abraão já tinha cerca de cem anos e Sara noventa, o que parecia impossível aconteceu. O filho prometido chegou. Isaque, o filho do riso, o filho da promessa. E aqui está o ponto crucial da narrativa, aquele que molda toda a história espiritual do Oriente Médio e, consequentemente, boa parte da história humana. Embora Deus tenha abençoado Ismael e assegurado grande descendência a ele, a Bíblia é clara ao afirmar que a aliança, isto é, o pacto eterno, não seria estabelecido por meio de Ismael, mas por meio de Isaque.

Esse ponto, frequentemente sensível, deve ser entendido não como rejeição ou superioridade, mas como uma escolha soberana para cumprir um propósito específico dentro do plano da redenção. Deus, em Gênesis 17:21, declara: “Mas a minha aliança, irei estabelecer com Isaque, o qual Sara dará à luz neste tempo determinado.” Assim, da linhagem de Isaque vem Jacó, e de Jacó surgem as doze tribos de Israel, o povo que carregaria a revelação divina, a Lei, os profetas e, finalmente, o Messias, Jesus Cristo.

Enquanto isso, os descendentes de Ismael se tornaram numerosos e influentes, formando grande parte das nações árabes. A Bíblia descreve Ismael como alguém cujo destino seria viver “em conflito com todos ao seu redor”, uma característica que, historicamente, ajudou a moldar seu papel no Oriente Médio. Os povos ismaelitas, mais tarde absorvidos entre os povos árabes, cresceram como uma força cultural e territorial expressiva, contribuindo para uma das regiões mais ricas em história do planeta.

A partir desse ponto, caminhamos pelos séculos, e vemos essas duas linhagens crescendo lado a lado, muitas vezes em tensão. Com o passar do tempo, surgem novos elementos nesse cenário. A história do judaísmo, o surgimento do cristianismo, e, séculos mais tarde, o advento do islamismo, que também reconhece Abraão e Ismael como figuras fundamentais. Assim, três das maiores tradições religiosas do mundo passam a reivindicar raízes no mesmo patriarca. O judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

Com o crescimento dos impérios, a chegada do Império Romano, a dispersão dos judeus, o surgimento do califado islâmico, as cruzadas e as mudanças geopolíticas ao longo dos séculos, a relação entre povos descendentes de Isaque e Ismael ora se distanciava, ora se chocava. E assim, a partir de uma história de família, nascia um dos capítulos mais complexos e duradouros da humanidade.

Quando chegamos aos últimos séculos, compreendemos que o Oriente Médio se tornou um mosaico de culturas, etnias, religiões e interesses políticos. E é justamente nesse contexto que as tensões modernas entre israelenses e palestinos surgem com maior força, especialmente após o século XX, com a volta de Israel à sua terra ancestral, a criação do Estado moderno de Israel em 1948, e as disputas territoriais que se seguiram.

É importante ressaltar que esse conflito não é simplesmente uma “briga entre descendentes de Isaque e Ismael”. Ele é um complexo entrelaçamento de fatores religiosos, históricos, culturais, territoriais e geopolíticos. Mas, ainda assim, a raiz espiritual dessa história remonta àquele momento em que Abraão recebeu dois filhos — ambos amados e abençoados por Deus — porém cada um destinado a cumprir um papel diferente dentro do grande enredo da redenção.

Assim, à luz das Escrituras, entendemos que o povo escolhido para carregar a aliança divina é a linhagem de Isaque, mas reconhecemos que todos os povos, sem exceção, são alvo do amor, da misericórdia e do propósito de Deus. É dessa compreensão equilibrada, respeitosa e historicamente fundamentada que podemos olhar para o presente e perceber que, por trás dos conflitos modernos, existe uma história milenar que começou na tenda de Abraão.

E talvez seja justamente esse olhar — um olhar de respeito, compreensão e consciência espiritual — que nos permita narrar essa história sem alimentar divisões, mas trazendo à luz a verdade, a fé e a esperança que atravessam gerações.

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