Anselmo de Cantuária
Pai da Teologia Escolástica
Anselmo nasceu em 1033, na pequena cidade de Aosta, localizada nos Alpes italianos. Filho de Gundulfo, um homem de temperamento difícil, e Ermenberga, uma mulher piedosa e carinhosa, Anselmo demonstrou desde cedo uma inteligência notável e uma curiosidade insaciável. Criado em uma família nobre, ele recebeu uma educação sólida, mas sua juventude foi marcada por tensões com seu pai, que se opunha ao seu desejo de seguir a vida religiosa.
Com a morte de sua mãe e um relacionamento cada vez mais difícil com seu pai, Anselmo deixou sua terra natal e viajou pela França, buscando um novo propósito para sua vida. Em 1059, chegou ao mosteiro de Bec, na Normandia, onde encontrou o renomado prior Lanfranco de Pavia, que se tornou seu mentor. No mosteiro, Anselmo descobriu sua vocação monástica e dedicou-se aos estudos, especialmente à filosofia e à teologia. Em 1060, ele ingressou formalmente na ordem beneditina.
Com o tempo, Anselmo sucedeu Lanfranco como prior e, mais tarde, como abade do mosteiro. Foi nesse período que ele começou a produzir suas obras teológicas mais importantes, nas quais combinava rigor lógico com uma devoção profunda. Ele buscava compreender as verdades da fé cristã por meio da razão, desenvolvendo o famoso lema “Fides quaerens intellectum” (“A fé que busca entendimento”).
Uma de suas contribuições mais significativas à teologia foi a formulação do argumento ontológico para a existência de Deus. Em sua obra Proslogion, Anselmo apresentou a ideia de que Deus é “aquele maior do que o qual nada pode ser concebido” e que, por isso, sua existência é necessária. Esse argumento foi amplamente debatido e continua a influenciar a filosofia e a teologia até hoje.
Outra obra marcante de Anselmo é Cur Deus Homo (Por que Deus se fez homem?), onde ele propôs uma explicação racional para a doutrina da encarnação e expiação. Ele argumentou que o sacrifício de Cristo foi necessário para satisfazer a justiça divina e reconciliar a humanidade com Deus. Essa teoria da satisfação teve um impacto duradouro no pensamento cristão ocidental.
Em 1093, Anselmo foi nomeado arcebispo de Cantuária, a mais alta posição na Igreja inglesa. Esse novo papel trouxe consigo grandes desafios, pois Anselmo entrou em conflito com os reis da Inglaterra, Guilherme II e Henrique I, sobre a investidura de bispos e o controle das terras da Igreja. Apesar de enfrentar o exílio duas vezes, Anselmo permaneceu firme em sua defesa da independência da Igreja em relação ao poder secular.
Embora sua vida como arcebispo tenha sido marcada por disputas políticas, Anselmo nunca abandonou sua missão pastoral. Ele era conhecido por sua humildade, bondade e dedicação à reforma do clero e ao cuidado das almas. Mesmo em meio a suas responsabilidades administrativas e políticas, ele continuava a escrever e a ensinar, deixando um legado teológico e espiritual incomparável.
Anselmo faleceu em 21 de abril de 1109, em Cantuária, deixando um impacto profundo na Igreja e na teologia. Canonizado em 1494, ele foi proclamado Doutor da Igreja em 1720, sendo reconhecido como um dos maiores pensadores cristãos da Idade Média.
Seu legado vai além de suas obras teológicas; ele é considerado o pai da teologia escolástica, que buscava harmonizar fé e razão. Suas ideias influenciaram não apenas seus contemporâneos, mas também teólogos posteriores como Tomás de Aquino e reformadores protestantes.
Anselmo de Cantuária é lembrado como um homem de oração, um defensor inabalável da fé e um teólogo que acreditava na capacidade da razão humana de explorar as profundezas do mistério divino. Sua vida é um testemunho de que a busca intelectual pode ser uma expressão de amor a Deus, inspirando cristãos de todas as eras a unir fé e entendimento em sua caminhada espiritual.